Saiu de casa naquela manhã, apressada como sempre, nem deu tempo pra comer qualquer coisa.
Várias dívidas por pagar e ansiosa para as compras do natal,
Com o dinheiro que recebeu, daria pra pagar tudo e ainda comprar uns mimos pra si.
Estava a uma semana e 3 dias para o final do ano, mas já tinha todas suas metas estabelecidas. Eram as mesmas dos anos anteriores.
A partir do dia 1 de janeiro seria uma nova mulher: forte, destemida, seria a sua melhor versão. E desta vez seria verdade, ela cumpriria todas promessas que fez.
Porém até lá, poderia se dar ao luxo de continuar procrastinando, afinal as mudanças seriam no novo ano.
Quando finalmente chegou à baixa da cidade, corria de um lado para o outro, tentando ganhar tempo e procurando as esquinas com os melhores preços.
Um pouco distraída, reconhece, mas é porque ela vivia longe e tinha tempo limitado, precisava fazer tudo antes que escurecesse.
O sol se pôs, ela já estava sentada no “chapa” à caminho de casa, dívidas pagas, roupas que nunca usaria compradas, e uma longa lista de coisas pelas quais voltaria. Estava feliz e esperançosa, o ano novo prometia.
Ela não se sentia viva e animada a tanto tempo, pensou até em fazer um bolo ao chegar à casa.
A viagem de volta seria longa, quanto a de ida, ela resolveu tirar uma soneca para que o tempo passasse rápido. Levou um tempo até adormecer, porque seu peito estava agitado, mas ela estava feliz, sentia que podia fazer qualquer coisa. Dormiu com um sorriso no rosto.
Não sei dizer ao certo o que aconteceu, mas a verdade é que ela nunca chegou à casa, apenas um corpo sem vida foi entregue aos familiares, ela se foi com todos sonhos e planos que tinha.
Não viveu muito no presente, ou estava triste pelo passado, ou receosa pelo futuro, sempre se adiando porque alguém uma vez disse que ela nunca seria capaz, sempre fugindo porque tinha medo que as pessoas não gostassem dela, achassem seu jeito e suas coisas estranhas.
Mas tudo aquilo mudaria no ano novo. É uma pena que ela não tenha chegado lá.
Adoraria ter conhecido a melhor versão dela.
Nosso tempo não é nosso.
Nossa vida não é nossa.
Tudo isso nos foi emprestado e não sabemos até quando.
Fazemos planos e vivemos como se tivessem nos dado 100 anos garantidos. Infelizmente não é assim.
Pare de se adiar!